Seo Zé. José de Almeida Santiago, 60 anos bem aproveitados.
Mais de 40 vividos na cidade dos táxis laranjas. Morador do Boqueirão há três
décadas. Acorda todo dia com o céu já nublado (como de praxe) e o galo “Nego”
já cantando. Passa seu café no pano nunca lavado, “isso que dá aquele gostinho
do campo” diz o mais antigo, e agora único, revelador da cidade de Curitiba.
Sim, fotos! Pleno século 21 e lá está ele todo dia no centro histórico da
cidade, o Largo da Ordem, revelando manualmente, uma por uma, as fotos dos,
também saudosos, clientes que insistem nesse velho hábito. “Ainda acredito que
isso é uma arte”, diz com todo orgulho a jovens, e às vezes não tão jovens, transeuntes
que se assustam com a sua profissão quase que pré-histórica.
Foto: André Pinto Donadio (Dedezão - https://www.flickr.com/photos/dedezaofotos/) |
2 de
janeiro de 2014, resolveu abrir a loja como todos os dias normais do ano, não se
importando de ser o único aberto na região. Poderia viver mais um dia na
solidão daquela cidade cinza, só não poderia viver a mais uma tarde de ócio sem
o Bar Batana, o estabelecimento vizinho. Resolveu então, as 15:30, fechar as
portas e voltar para casa. Dia e horário incomum, nem mesmo uma alma viva no
tubo ou dentro do biarticulado. Esperava ansioso o momento de abrir a geladeira
e terminar mais um dia com suas cervejas e um pouco de TV.
Sentiu logo
na esquina de sua rua que havia algo estranho. “Porque cargas d’água o Arantes
está aqui uma hora dessas? Sabia que eu ia abrir a loja hoje!” questionou-se em
voz alta ao avistar o carro do amigo estacionado em frente a sua casa. Entrou e
foi direto a geladeira. Furioso, saiu em direção ao quarto sem sequer perceber
o chapéu e a blusa do “cumpadi” jogados no sofá da sala. Abriu a porta e com
apenas dois passos chegou ao baú antigo ao pé da cama (herdado de sua mãe, da
época em que ainda vivia no campo e tomava aquele seu café gostoso!). Tirou o
seu revólver 38, escondido embaixo de suas cuecas, e deu três tiros. Dois no
peito de Arantes e um na perna de sua amada.
“Filhos da
puta! Me deixaram uma única cerveja...”
Um comentário:
Bom reler. Tem cheiro. Tem mais aí?
Postar um comentário