Terra de quem, como todos, acordava diariamente em um mesmo
horário e reclamava de ter que aguentar mais um dia. De quem, possivelmente,
com certa tristeza ou desânimo, respondia “Vai indo, do jeito que dá” a todo
conhecido que no reencontro perguntava, “E ae, Como anda a vida?”. Terra de
quem em algum momento resolveu viver do jeito que dava, sem deixar de pensar
que isto poderia ser o melhor a ser feito. De quem passou a viver ao invés de
sobreviver. De quem percebeu que buscar o pouco aqui perto é infinitamente
melhor do que buscar o impossível lá longe. Terra de quem viveu sua época sem
se preocupar com o que veio antes e o que viria depois.
Terra de quem algum dia se sentou ao trono e vislumbrou
todos aqueles azulejos, talvez colocados ali aleatoriamente, talvez escolhidos
a dedo. De quem, assim como eu, tomou seu café após um almoço com a família e
resolveu que o agora deveria ser eternizado. De quem algum dia sonhou que
simples azulejos, poderiam em um momento de completo vazio, ser fonte de uma
simples e singela crônica. Não sua última, mas a primeira de muitas. Não uma
obra prima, mas a que se tornou possível no momento. Não a perfeita crônica de
um Nelson Rodrigues ou Fernando Sabino, mas a de quem resolveu fazer. Fazer e
ponto final. Saiu do papel e de seus sonhos e materializou-se.
Materializou-se como a vida, que se materializa a cada
tentativa. Que diferente de um trabalho escolar, onde rascunhamos e reescrevemos
quantas vezes for possível, deve ser construída a cada dia. Vivida do jeito que
dá. Vivida para que possa algum dia ser imortalizada. Deve ser tentada e
tentada, esperando que nunca chegue ao sucesso. Pois foi tentando que muitos se
imortalizaram. E será tentando que um dia farei da minha terra e dos azulejos
do meu pequeno banheiro, uma terra a ser lembrada e invejada por muitos.
Ou não, mas continuarei tentando.
Ou não, mas continuarei tentando.